segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Breve História da Música Popular Brasileira - Parte I



Da Polca ao Chorinho




A história começa com os índios e com a música feita pelos jesuítas, em sua maioria, músicos de formação, que aqui aportaram. Esse encontro entre a música dos jesuítas e a música dos indígenas é a pré-história da música popular do Brasil. A evolução desses ritmos primitivos, como o cateretê ou o cantochão, são ainda hoje tocados em festas populares.



A influência portuguesa foi a mais vasta de todas. Os portugueses fixaram o nosso tonalismo harmônico; deram-nos a quadratura estrófica; provavelmente a síncope que nos encarregamos de desenvolver ao contato da pererequice rítmica do africano; os instrumentos europeus, a guitarra (violão), a viola, o cavaquinho, a flauta, o oficleide, o piano, o grupo dos arcos; um dilúvio de textos; formas poético-líricas, que nem a Moda, o Acalanto, o Fado (inicialmente dançado); danças que nem a Roda, infantil; danças iberas que nem o Fandango; danças dramáticas que nem os Reisados, os Pastoris, a Marujada, a Chegança, que às vezes são verdadeiros autos. Também de Portugal veio a origem primitiva da dança dramática mais nacional, o Bumba-meu-Boi.



A música popular do Brasil colonial só se tornaria mais forte no final do século 17, com o lundu, dança africana de meneios e sapateados, e a modinha, canção de origem portuguesa de cunho amoroso e sentimental. Esses dois padrões, a influência africana e a europeia, alternaram-se e combinaram-se das mais variadas e inusitadas formas durante o percurso que desembocou, junto a outras influências posteriores, na música popular dos dias de hoje, que desafia a colocação de rótulos ou classificações abrangentes. Durante o período colonial e o Primeiro Império, além dos já citados lundu e modinha, também as valsas, polcas e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil uma nova forma de expressão. As valsas e polcas se tornariam um dos ingredientes para "um negócio sacudido e gostoso", o Choro.



Não importa como é chamado, a verdade é que o Chorinho é a cara do Brasil. Grandes maestros da música afirmam que é impossível criar um rock moderno, original e revolucionário sem um profundo conhecimento das tradições musicais de nossos ancestrais. Mas como toda regra tem sua exceção, o Chorinho veio para provar exatamente o contrário.



O Choro, não como gênero musical, mas como forma de tocar, apareceu por volta de 1870, no Rio de Janeiro. Eram pequenos grupos musicais formados por modestos funcionários do Governo, que utilizavam a flauta como "solista", o violão como "baixaria" e o cavaquinho como "centro". O virtuoso flautista e líder do grupo Choro Carioca, Joaquim Antônio da Silva Calado foi um dos iniciadores e organizadores desses conjuntos. Elaborava um novo estilo musical que incorporava improvisação, e desenvolvia um novo diálogo entre solo e acompanhamento. A participação ocasional ou improvisada dos instrumentos é que determinava a função de cada um no conjunto musical. No início, o Choro era a expressão brasileira dos estilos musicais europeus, mas logo perdeu esse caráter importado, incorporando características e feições perfeitamente brasileiras.

No entanto, foi com Pixinguinha, considerado o Bach do Choro, que o novo estilo musical ganhou maturidade, forma e orientação. Ele organizou diversos grupos, tocou durante seis meses em Paris em Os Oito Batutas, e quando retornou ao Brasil, introduziu o saxofone e o trompete no repertório. Juntamente com Pixinguinha, outros ilustres nomes do Choro formavam Os Oito Batutas, como João Pernambuco, violinista e compositor de choros para violão, e Donga, coautor de "Pelo Telefone", primeiro samba gravado no país. É nessa relação que o Choro se aproxima do samba.



Não podemos deixar de mencionar outros artistas importantes que contribuíram para o sucesso do Choro no Brasil. Benedito Lacerda, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Godofredo Guedes, Clementina de Jesus, Jackson do Pandeiro, Elizete Cardoso estão entre as muitas gerações do Choro. O Choro também sempre esteve presente nos concertos musicais clássicos, influenciando as composições de Villa-Lobos, Ernesto Nazaré e do maestro Radamés Gnattali.

No entanto, no início dos anos 60, época do nascimento da Bossa Nova, o Choro foi praticamente esquecido pelo público e pela mídia. Até hoje não se sabe o motivo real que levou a esse esquecimento. A Bossa Nova decolou, enquanto o mundo inteiro tocava e cantava "Garota de Ipanema". O Choro passou a ser visto como um gênero velho, que despertava o interesse dos aposentados e das camadas mais baixas da sociedade. Ao mesmo tempo a Bossa Nova passou a integrar o foro das camadas elitizadas da população. O consagrado Choro viu-se restrito ao mundo exclusivo de seus grandes músicos.

No início dos anos 70, Paulinho da Viola faz o Choro renascer. Ao gravar Memórias: Chorando, traz de volta o gênero esquecido, que passa a ser estimulado por diversos músicos como Paulo Moura e Hermeto Pascoal. E até hoje o Choro está aí. Conquistou autonomia e se impôs como um dos principais gêneros musicais do Brasil. Ganhou espaço no contexto musical internacional e hoje novos artistas estão propondo inovações. O músico Manuel Antônio Filho, integrante do Trio Corda & Choro, por exemplo, resolveu inovar. Misturou os tradicionais violão e bandolim do chorinho, com o tom clássico do violoncelo em suas composições. A novidade parece ter agradado. Há um mês o grupo se apresenta num restaurante carioca e o público parece estar adorando.

Fonte: SIQUEIRA, Antônio. Uma breve história da música popular brasileira. Dispnível em: <http://www.germinaliteratura.com.br/2009/musica_antoniosiqueira_out2009.htm>.

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